O caminhar sôfrego não refletia seu estado de espírito. Estava bem. Assim como o suave dispensar do sentido não era indício do seu mal-estar: estava angustiado. Era impressionante poder ver o musgo crescendo nas cascas das árvores e até num pedaço de chão. Tocar o aveludado fungo verde era como fazer carinho numa fera - talvez o musgo crescesse em si mesmo, talvez ele fosse um musgo apenas esperando para eclodir como tal. Mas seu olhar apaixonado ao tapete verde natural persistia diante das incertezas da sua própria matéria.
O vento farfalhava em seu ouvido, lento, o frio acariciava o seu rosto e lhe fazia pensar naqueles bons momentos de candura junto dela. A marcha o levava adiante, sabendo que ia de encontro ao seu passado, qualquer dia desses. Por que a textura das coisas o fascinava tanto? Era sempre assim, estar parado nalgum canto era seguido de um constante investigar de corpos - qual era a sensação da parede, qual era a sensação da calça, qual era a sensação das plantas.
O grande problema era que ele nunca havia sentido a textura da fumaça - céus, como aquilo o indignava. Já havia tocado muita coisa, de mulheres à flores, de bichos à torres. Mas a maldita fumaça, diabo, essa sempre escapava. Ele sabia que tocar as coisas era estar vivo - afinal de contas: sinto, logo existo. A fumaça era sua morte.
Como quem precisa toda hora se lembrar de que está vivo, ele se apaixonou por aquilo que lhe dizia: morte. O que ele queria mesmo era ir com a fumaça, virar pó.
Olhou ao seu redor, sentiu vontade de espirrar.
Sentiu vontade.
É.
Estava vivo.
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