Acho o máximo esses escritores de filme. Tantas idéias, sobre tantos assuntos. Depois ali de umas doses e uns cigarros e eles estão funcionando a pleno vapor, na calada da noite, descobrindo o sentido oculto da vida até aquele ponto final. Quem diabos escreve?
Lá estava eu, no parque, tomando uma cerveja e fumando um cigarro, no meio de algumas risadas e boa música. Ao primeiro sinal da escuridão, surge a criatura. Um tipo de seus 30 e poucos anos, sozinho, tomando cerveja no canudinho e infiltrando as rodas. As folhas que seus pés pisavam quebravam mais alto, ele se fazia notar, claro. Recitou um poema de merda, à pedido e autorização de ninguém - todos queriam continuar rindo, o cara estava ferrando todos os esquemas. Convenci ele a recitar o mesmo poema sobre o cemitério das pessoas que ele tanto amou para uma loira com um bambolê, mas ele deveria fazer rebolando. O cara realmente foi e então pude voltar às minhas risadas e à minha cerveja.
Não sei bem qual foi o sentido vital que quiseram me passar ali, mas não podia reclamar muito, a vida estava boa. O homem retorna, ainda em seus 30 e poucos anos, fiquei surpreso de que não tivesse envelhecido tanto assim. Perguntou sobre meus poemas, fiz questão de dizer que nunca tinha escrito nenhum poema, é tudo uma grande mentira suja. Ele ficou puto comigo por que eu não recitei nenhum dos meus poemas, ele arrancou a cerveja da minha mão e colocou na sua lata, tomando com o canudinho o suor do meu trabalho. Me disseram depois que ele queria uma batalha de poemas, algo como a versão candanga de 8 mile, o novo rap hipster da capital.
Uma hora ele foi de vez, mas ainda podia vê-lo querendo voltar aos poucos. Fiquei assustado com a possibilidade de ter que ouvir mais um de seus terríveis poemas ou mais uma história da mina que o deixou por que ele era boêmio demais para se dar conta.
Quase uma semana se passou e eu quase sangrei para conseguir escrever esses porcos parágrafos, por que na verdade eu mal tenho opinião sobre os assuntos importantes, imagina então sobre minha vida estapafúrdia... Só depois de noites em claro, medo de ser assassinado e quase um dia inteiro a base de Jazz que saem algumas linhas.
Mas em um ponto ele estava certo, ele só surgiu depois que o sol se foi. O papel do escritor é preto como a noite, folhas em branco não fazem contraste de dia. A não ser em dias cinzentos...
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